05 abril, 2013

O BULLYING NO ÂMBITO ESCOLAR: SUAS CONSEQUÊNCIAS E MEDIDAS PREVENTIVAS



O BULLYING NO ÂMBITO ESCOLAR: SUAS CONSEQUÊNCIAS E MEDIDAS PREVENTIVAS[1]

Andressa Carla de Oliveira
Pedagoga pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR-Campus Paranavaí)
Elias Canuto Brandão
Doutor em Sociologia. Membro do Colegiado de Pedagogia da UNESPAR-Campus Paranavaí; Pesquisador CNPq em Políticas Públicas de Educação do Campo


RESUMO
O presente artigo estuda o bullying no contexto escolar, compreendendo suas consequências, analisando o que o mesmo pode trazer de negativo na vida social, nos relacionamentos e na aprendizagem dos alunos que sofrem esta forma de violência. O estudo foi sustentado em pesquisa bibliográfica, buscando apontar caminhos para a construção da chamada cultura antibullying, a fim de contribuir com a formação docente para que se tornem mais atentos no diagnóstico e prevenção de possíveis agressões em sala de aula e fora dela. O tema é de preocupação no contexto escolar brasileiro e de outros países o que justifica conhecê-lo e se aprofundar sobre a questão ser uma forma de contribuir para sua prevenção.
Palavras-chave: Violência escolar. Bullying. Formação docente.


1  INTRODUÇÃO

Por séculos o bullying ocorreu no cenário escolar sendo considerado algo natural e, portanto, ignorado pelas instituições de ensino. Atualmente, em parte como resultado gerado pela repercussão na mídia, os atos agressivos entre estudantes ficaram conhecidos e tornaram-se tema de estudos entre educadores, psicólogos e psiquiatras como diferentes formas de violência velada, intencional e repetitiva praticada por crianças e adolescentes no espaço escolar. Enquanto violência, o bullying tem causado sérios danos à vida dos envolvidos, atingindo dimensões cada vez maiores e complexas, tendo visto que o praticante direciona seu ataque a uma pessoa determinada e de forma constante, levando-o a se autoexcluir do meio social onde está inserido, gerando traumas irreparáveis na vida do indivíduo.
Por se tratar de um assunto complexo, nossa preocupação é contribuir com esclarecimentos que possibilitem ações conjuntas diante do enfrentamento desta problemática. Como o bullying acaba se evidenciando geralmente dentro da escola, ela necessita do apoio de todos para solucioná-lo, envolvendo as famílias, os alunos e toda a comunidade em geral.
Para tanto, o presente artigo analisa o bullying no contexto escolar, visando contribuir na formação docente para orientação dos educandos no que tange aos prejuízos sociais e educacionais com a prática desta violência.
Estudos indicaram que a prática do bullying entre os estudantes, quando praticado na escola e, sendo detectado pelos educadores, pode ser trabalhado pedagogicamente em tempo hábil, resultando em possíveis soluções pela equipe escolar. O problema é que várias situações acabam escapando do controle das escolas, necessitando do apoio da família e de especialistas, como psicólogos.
A prática do bullying, apesar de histórica, expandiu-se com a organização da sociedade capitalista, alterando as relações afetivas, expondo os indivíduos a uma relação de competição no nível social, no trabalho e escola, afetando diretamente dois núcleos: familiar e escolar. O fato de os pais passarem boa parte do seu tempo trabalhando, ausentando-se do desenvolvimento de seus filhos, gera reflexo no comportamento das crianças e adolescentes na família e na escola, alcançando a carência de limites, tornando-as agressivas e violentas. Trata-se da necessidade que o indivíduo tem de se impor sobre o outro, tanto para demonstração de poder quanto para satisfação pessoal. Sobre esta questão, elencamos no final deste estudo, possíveis contribuições que visam a prevenção por meio de alternativas que escola e família possam colocar em prática, possibilitando o enfrentamento do problema.
            Para facilitar a compreensão do estudo, utilizamos a metodologia dialética para compreender a realidade histórica e cultural dos indivíduos quando envolvidos em atos violentos, pois, segundo Guareschi e Silva,

Ao tratar de bullying, é importante considerar ainda uma questão fundamental: o contexto, isto é, o quanto a cultura em que os jovens estão imersos pode influenciar no modo com que lidam com problemas e pessoas [...]. Muitos alunos envolvidos no bullying receberam influência cultural que eliminava opções que não envolvessem violência na resolução de problemas do dia-a-dia. (2008, p. 55).

Um olhar atento sobre o bullying leva-nos a perceber que as experiências vivenciadas pelo aluno em seu meio e na sua comunidade podem repercutir por meio de seus atos na escola, visto ser esta o espaço de maior concentração de pessoas em idade semelhante e de procedências culturais e ideológicas diferentes.  Diante disto, faz-se necessário promover o diálogo, a solidariedade e a tolerância frente às diferenças, incentivando a paz não apenas na escola, mas principalmente no ambiente familiar, uma vez que aí estão os pilares que moldam e consolidam os primeiros conceitos de respeito, moralidade e ética no indivíduo.
Várias teorias como de Cléo Fante, Éric Debarbieux entre outros citados neste trabalho, nos dão suporte para conhecermos o fenômeno bullying, apesar de não existir grandes obras que tratem da questão nas escolas e sociedade. Daí a importância de discutir a temática para contribuir com a preparação dos educadores no seu enfrentamento, possibilitando-os ir além da violência em si, tendo visto que a prática do bullying pode envolver questões culturais, econômicas e políticas, refletindo efetivamente na educação.


2  O BULLYING NA ESCOLA E SUA DEFINIÇÃO

Pessoas que convivem ou que trabalham com crianças e adolescentes diariamente   cia ou mesma.iolzar em relaçãosabem que a prática de “perversões” ou atitudes de provocações e brigas entre eles são corriqueiras. E quem nunca praticou? Na escola, devido à convivência com diferentes crianças e adolescentes da mesma idade, essa realidade é frequente. As crianças praticam brincadeiras de “mau gosto” e ofensivas consideradas por elas como “normal”.
Aos olhos dos adultos, as crianças não têm limites. Mas num olhar atento, de educador, constata-se ter. Falta preparo dos educadores para lidar com a situação. E o preparo deve começar na Universidade que, nesta matéria, também está despreparada para a formação dos educadores. Neste complexo, presencia-se a postagem de apelidos e “sarros” das imperfeições físicas ou da situação econômica que o outro possui, dentre outras formas de ataques pejorativos. O problema e preocupação dos educadores é que as “brincadeiras” estão sendo praticadas de maneiras graves e frequentes, por meio de agressões verbais, físicas e psicológicas discriminatórias.
Dessa forma é importante compreender a violência social nas escolas historicamente, analisando a partir do crescente número de comportamentos agressivos entre os estudantes, sobretudo com a expansão da revolução industrial e comercial, da tecnologia e da mídia.
No bojo da violência social, o certo é que o bullying causa prejuízos a quem o sofre. Segundo Michaelis apud Camargo e Costa (2010), a palavra bully de origem inglesa, significa indivíduo “brigão”, “fanfarrão”, “tirano”. Utilizada do verbo bullying, possui o significado de ameaçar, amedrontar ou maltratar, onde o indivíduo protagonista submete o outro a situações de humilhação por meio de ameaças físicas, emocionais, cognitivas ou sociais, de forma repetitiva sobre um mesmo indivíduo.
Como ferramenta protetora de quem sofre vexames como o bullying, existe no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), documento que estabelece direitos e deveres às crianças e adolescentes. O artigo 17 prescreve que

O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integração física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação de imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. (BRASIL, 1990, s/p)

Na continuidade do resguardo do direito, o artigo 18 preceitua ser “dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor” (Ibidem).
O bullying confronta-se com o ECA, pois se manifesta através de agressões verbais, físicas, morais, materiais e psicológicas de maneira intencional e repetida, sem uma motivação específica.
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), citado por Neto (2012), realizou uma pesquisa em 2002 com patrocínio da PETROBRAS em onze escolas do município do Rio de Janeiro, envolvendo 5.875 estudantes de 5º e 8º séries, para verificar o índice de estudantes envolvidos com o bullying. Os dados indicaram que 40,5% desses alunos estiveram diretamente envolvidos em atos de bullying na escola naquele ano, sendo que do total, 16,9% eram naquele momento alvos da violência, 10,9% foram alvos/autores e 12,7% foram autores direto de bullying. Na prática, o estudo adverte que enquanto a sociedade se organiza para lutar pela proteção legal das crianças e adolescentes, o que é um direito intransferível, o interior da escola tem sido palco de violência de todas as formas contra os mesmos e que o Estado, enquanto protetor dos direitos sociais, políticos, econômicos, culturais e civis, não dá a devida atenção e amparo, sendo conivente com as diferentes formas de violência, podendo ser penalizado.


3  OS PERSONAGENS DO BULLYING E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Existem três personagens nesse tipo de violência: o agressor, a vítima e o expectador. De acordo com Silva (2010), as vítimas do bullying, em geral, fogem do padrão imposto por um determinado grupo de alunos, sendo pelo seu caráter físico, (altura, peso, imperfeições físicas), raciais, culturais, regionais, geralmente são inseguras, e possuem dificuldades de se expressar em grupo e na coletividade. A ausência dos atributos trabalhados por Silva pode ser fundamentado na agressividade e na falta de limites.
Os atingidos não conseguem reagir aos ataques e as agressões, tornando-se alvos mais fáceis de coagir. Como consequência, ficam vulneráveis a doenças decorrentes das provocações, ameaças e perseguições, podendo desenvolver transtornos do pânico, ataques de ansiedade, angústia, depressão, anorexia, bulimia, fobia escolar e outros problemas de socialização, podendo levar o indivíduo ao suicídio, homicídio ou, como forma de compensação dos maus tratos sofridos, reproduzirem a violência contra outras crianças ou adolescentes quando não tratados em tempo hábil.
O provocado ainda corre risco de, caso as perseguições não sejam identificadas e tratadas a tempo, tornar-se um adulto reprodutor dos atos de bullying em seus relacionamentos pessoais na sociedade ou escola, no mercado de trabalho ou ambiente familiar.
Silva (2010) aponta que os praticantes podem agir só ou em grupo, provocando a violência com o intuito de obter imagem pessoal única, passando-se por “fortão” ou “valentão”, tendo a sensação de estar popular, demonstrando em sua personalidade traços de desrespeito e maldade. Para a autora, o agressor pode ter origem social em lares desestruturados e pode ser uma pessoa que não recebeu a atenção devida quando necessitava, não conseguindo transformar sua raiva em diálogo.
Destaca a autora que nestes acontecimentos os personagens expectadores são partícipes da situação ao não intervir para evitar as agressões. Podem não participar diretamente do conflito, mas são fundamentais para a continuidade do ato, pois testemunham as agressões e não defendem o agredido, nem se juntam aos agressores.
A autora coloca ainda que nestes acontecimentos os personagens expectadores são partícipes da situação ao não intervir para evitar as agressões. Podem não participar diretamente do conflito, mas são fundamentais para a continuidade do ato, pois testemunham as agressões e não defendem o agredido, nem se juntam aos agressores.
A conivência dos expectadores tem duas possibilidades. Uma é medo de se tornarem a próxima vítima do agressor, omitindo-se diante das agressões. A outra é de atuarem como platéia, reforçando a agressão, rindo ou usando palavras de incentivo ao agressor, prejudicando psicologicamente o agressor e o agredido.
            Destaca Silva (2010) que com a ocorrência desse tipo de violência na escola, o desenvolvimento sócio-educacional é prejudicado e as crianças podem se tornar inseguras e tendo medo de serem as próximas vítimas, podendo influenciar nas suas relações futuras, tornando-se adultos inseguros, visto que nem a escola tem sido local seguro, saudável e solidário devido às diferentes formas de violência.
            Vale lembrar que qualquer tipo de violência e, sobretudo o bullying mediante suas características e peculiaridades, resultam em consequências e danos gravíssimos para a vida social, emocional, afetiva e profissional de quem pratica ou sofre e, tanto para a vítima, agressor e expectadores, as consequências são graves e negativas, podendo ser trágica. Um texto produzido por Sidneya (2009), do Colégio Impacto, demonstra o que estamos pontuando. Diz a missiva.

As conseqüências afetam a todos, mas a vítima, [...] é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos.
Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um autoconceito de menos-valia e considera-se inútil, descartável. Pode desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio. Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações, o modelo que sempre lhe trouxe “resultados”: o do mando-obediência pela força e agressão. É fechado à afetividade e tende à delinqüência e à criminalidade. Isso, de certa maneira, afeta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até espectador, tais ações marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados gerando, até mesmo, atitudes sociopatas. (SIDNEYA, 2009, s/p).


O bullying é sério, porém não é e nem pode ser considerado um fenômeno fora das possibilidades e controle. Na maioria das vezes falta vontade política e disposição por parte dos gestores educacionais em encarar a problemática. Encarando, há possibilidade para reversão.
Enfim, é necessário conscientizar o agressor sobre as consequências do que faz, fazendo com que se coloque no lugar do agredido, mostrando a ele e à vítima que não estão sozinhos e que com ajuda dos educadores, pais, psicólogos e outros especialistas é possível alterar o comportamento agressivo.


4  O PAPEL DA ESCOLA E DA FAMÍLIA

O bullying na contemporaneidade expande-se velozmente, tornando-se mais conhecido pelos debates e reportagens realizados pela mídia, como a divulgação do massacre de Realengo no ano de 2011, no Rio de Janeiro, quando o jovem Wellington Menezes de Oliveira, entrou armado na escola onde estudou por anos, atirando contra todos, resultando na morte de 12 estudantes. O bullying, naquela situação em específico pode ter motivado o atirador.
Casos como este, são divulgados pela mídia, devendo assim receber uma atenção especial por toda a sociedade, para que situações semelhantes não ocorram noutras partes do país, ganhando espaço e notoriedade negativa na mídia, muito mais que ações de conscientização.
As informações, mesmo que distorcidas ou carregadas de sensacionalismo, ganham força com o contributo da mídia, sobretudo televisiva. Por outro lado, desenhos, reportagens, filmes, jogos de vídeo-games e seriados induzem, mesmo que indiretamente, crianças e adolescentes a reproduzirem na escola determinados conteúdos televisivos, resultando em agressões físicas, psicológicas e verbais. Intencional ou não, a mídia induz as crianças a imaginar que tudo pode ser resolvido através da violência e, direta ou indiretamente, colabora com a agravação do bullying nas escolas. Cabe ao Estado, por meio da instituição escola – apesar de não ser sua função e responsabilidade principal, mas infelizmente ela não pode ficar alheia a esta situação – e aos pais conscientizarem as crianças e adolescentes que os conflitos não devem ser reproduzidos e resolvidos através de atitudes violentas, do tipo “te pego na saída” ou do “me aguarde na saída”, mas sim por meio do diálogo e da convivência salutar.
Um possível caminho para solucionar e/ou prevenção do bullying, é reunir a equipe pedagógica, funcionários, pais e alunos das instituições de ensino no levantamento de situações e meios para combatê-lo com leituras, palestras, teatros ou reportagens, pois a instituição não pode se esquivar diante dos conflitos, ainda mais quando o bullying ocorre nos espaços internos da instituição educativa.

A responsabilidade da instituição se justifica, pela falha na vigilância dos menores, enquanto que a dos responsáveis se dá em razão de sua inoperância e mesmo omissão quanto à importante parcela de responsabilidade que lhes cabe na educação dos seus filhos. (LEITE, 2011, p. 71).

Assim, as instituições devem ficar atentas a tudo que ocorre em seu interior, a exemplo de relacionamento entre os estudantes: brigas, drogas, olhar diferenciado, silêncio exagerado, entre outros. Já os pais devem ficar atentos quanto à mudança de comportamento de seus filhos.
Segundo Almeida (2012), os pais só percebem que a criança está sofrendo algum tipo de agressão, quando aparecem com marcas pelo corpo. Somente a partir da agressão os pais procuram a escola para saber o que está acontecendo  – talvez tarde demais. Descreve que as crianças quando agredidas aparecem com vários sintomas diferentes de seu normal, chorando excessivamente, recusando-se a ir à escola, queda no rendimento escolar, isolamento, entre outros.
As queixas e alterações de comportamentos podem indicar anormalidades que não devem passar despercebidas, pois podem estar passando por situações conturbadoras, não conseguindo falar sobre o que está acontecendo devido às ameaças realizadas pelos agressores.
Observações semelhantes devem ser acompanhadas junto ao agressor, seja no convívio do agressor com sua família e sociedade, seja na escola, pois a relação convívio e comportamentos podem influenciar nas suas atitudes. As observações podem evitar que os agressores se revoltem e reproduza os atos contra outros.

[...] as famílias podem ajudar a manter seus filhos afastados da violência, podem, também, socializá-los para ela. Pais violentos podem estar contribuindo para tornar violentos os seus filhos. Se a violência familiar pode, de alguma forma, agravar os efeitos da violência urbana sobre as crianças e jovens, é possível que ele produz consequências muito significativas e imediatas sobre a vida escolar [...]. (CANDAU; LUCINDA; NASCIMENTO, 1999, p. 62).

A ausência de limites ou a falta de diálogo com os filhos, os pais acabam deixando de lado a educação dos mesmos, contribuindo para o distúrbio comportamental e os pais, em situações como estas, podem ser responsabilizados pelos atos dos filhos na escola e na sociedade.
Neste sentido, o acompanhamento permanente da família sobre seus filhos na rua, na escola e em ambientes coletivos contribuirá para comportamentos saudáveis e formação da personalidade. E, neste viés, tratando-se da família, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 4°, prescreve:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público essegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

O Estatuto deixa claro caber primeiramente à família o dever de zelar pela formação biopsicológica dos filhos, assim como é dever possibilitar o melhor na sua educação, acompanhando seu desenvolvimento.


5  ESTRATÉGIAS E MECANISMOS DE PREVENÇÃO

De acordo com Santomauro (2010), algumas ações contra o bullying e outras formas de violência nos espaços educacionais podem ser realizadas pela direção das escolas, a exemplo de medidas de prevenção, visando solucionar esta problemática. Dentre as medidas podemos citar:
·         A promoção de atividades que garanta o bom relacionamento entre os estudantes, como ensinar a olhar para o outro, visando tolerar as diferenças individuais de cada um;
·         Reunir os alunos para falarem e desabafarem sobre seus descontentamentos, visando à formação de um ambiente equilibrado;
·         A equipe pedagógica e diretores devem dar o exemplo e não agirem com agressividade e autoritarismo nas salas ou contra os colegas de trabalho, pois os alunos os vêem como modelo;
·         Realizar discussões e levantamento de normas sociais e educacionais entre alunos e educadores;
·         Pensar o envolvimento do conjunto da escola: agentes, direção, professores, funcionários, alunos e familiares e, juntos encontrarem formas de identificação do bullying e possibilidades de sua exclusão;
·         Realizar sondagem do bullying por questionários anônimos, verificando o relacionamento dos alunos na escola, identificando possíveis agressões e buscando contribuições de pistas para possíveis soluções.

Debarbieux (2011, p. 26), analisa que “a violência nas escolas só pode ser enfrentada se tratada com profundidade, com formação docente específica, incentivo à solidariedade e aumento da proximidade entre professores e alunos”.
A ABRAPIA, citada ainda por Neto (2012), coloca algumas outras orientações para os diretores, coordenadores e professores visando reduzir o índice de bullying nas escolas. Para a Associação, é importante desde o primeiro dia de aula falar com os alunos que não será tolerado práticas de bullying na instituição, fazendo com que todos se comprometam em evitá-lo, não praticando violência e avisando a direção caso percebam indícios de ocorrência.
Defende-se ainda a promoção de debates e projetos que tratem sobre o tema bullying nas salas de aula, divulgando e fazendo que seja assimilado por todos. Aconselha-se a entidade, quando ocorrer alguma situação de bullying, a procurar lidar com o mesmo de forma direta, investigando e analisando os fatos, conversando com os envolvidos, chamando sempre os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente para que tomem ciência e consciência do ocorrido, levando-os a participar junto com a escola na busca de soluções. Para Nogueira (2005),

Quando identificados um autor e uma vítima, ambos devem ser orientados. Seus pais devem ser alertados e estar cientes que seus filhos, agressor ou agredido, precisam de ajuda especializada. O comportamento dos pais diante deste comunicado é muito importante: não se deve cobrar o revide, nem intimidar ou agredir. Este é um momento de aprendizado para todos, e mostrar como se controlar, manter a calma e evitar comportamentos de violência é imprescindível. (NOGUEIRA, 2005, p. 9).

            Um erro constante dos pais que tomam conhecimento de filhos que sofrem violência é instigá-los à réplica com frases como “você não é homem não?” ou “seja homem, pegue-o da próxima vez”, significando incentivo à violência e despreparo enquanto pais ao provocar o contra-ataque, sendo importante a escola identificar e entender quem são os pais dos educandos, desenvolvendo ações de conscientização.
A ABRAPIA defende como necessária a formação de professores preparados para intervir em situações de bullying e outros tipos de violência, possibilitando conhecerem os meios de apoio e encaminhamentos para medidas legais e soluções às situações de agressões, caso o diálogo com os envolvidos não tenha êxito. É preciso formar alunos conhecedores do que é bullying e dos prejuízos que o mesmo resulta, promovendo ações antibullying, conscientizando-os dos danos, exaltando o respeito às diferenças, a solidariedade e proporcionando relações saudáveis entre professor-aluno, aluno-aluno, aluno-comunidade.
Sobre esta temática, Guareschi e Silva (2008) defendem que,

A escola deve priorizar a conscientização geral de seus alunos e estimulá-los ao engajamento em projetos antibullying. Deve-se encorajar os alunos a participar de intervenções que promovam a supressão de atos que caracterizam o bullying para, desse modo, mostrar aos autores que eles não terão seu apoio, nem sua omissão. (2008, p. 77).

Assim, combater o bullying é uma tarefa permanente de educadores, pais e sociedade em geral, conscientes de que não é de uma hora para outra que este problema seja solucionado e que há dificuldades para alcançar êxitos no seu combate, pois se trata de um fenômeno complexo, sendo necessário o envolvimento de educadores e pais, mesmo quando estes alegam falta de tempo no acompanhamento da formação sócio-biológica dos filhos.
É necessário promover orientações, uma conscientização de forma geral e, sempre estar discutindo a respeito do bullying nas escolas, nos lares e ambientes de trabalho, para evitar que o fenômeno seja reproduzido na vida adulta, gerando um círculo vicioso.





6     CONCLUSÃO

Até a pouco o bullying se apresentou de forma natural e camuflada em nossas escolas. Com o crescente número de ações violentas no interior das mesmas, houve a necessidade de se investigar tal prática, analisando como ela se manifesta na sociedade e na escola, conhecendo suas características e seus personagens e ainda os fatores que favorecem sua ocorrência no âmbito escolar.
O bullying é um tipo de violência, apresentando-se em forma de agressões físicas, verbais, psicológicas contra o outro, geralmente sobre uma mesma pessoa, de maneira repetitiva, trazendo consequências graves e negativas na vida dos envolvidos, a exemplo do desenvolvimento de doenças decorrentes dessa prática, chegando a levar o atingido a um estado crítico e trágico, como a opção pelo suicídio ou assassinatos, bem como a reprodução dos atos sofridos na idade infanto-juvenil, prejudicando as relações afetivas e sociais.
O bullying não pode ser visto como um fenômeno natural. É uma questão social e, portanto de gestão e responsabilidade do Estado.
Assim, faz-se necessário uma conscientização sobre essa problemática, envolvendo a família, a escola e o Estado, para que juntos promovam ações para seu enfrentamento, obtendo soluções de curto, médio e longo prazo, pois suas causas estão no modelo de sociedade que vivemos, provocando círculos viciosos entre as crianças, adolescentes e jovens.
É na escola que os sinais de bullying mais se manifestam e podem ser trabalhados, uma vez que é o espaço de aglomeração e diversidade. Destacamos que esta forma de violência é decorrente da maneira com que nossa sociedade está organizada, de suas relações individualistas, excludentes e competitivas, onde as pessoas na maioria das vezes só pensam em si e na satisfação de suas próprias necessidades, deixando de lado todo o vínculo afetivo, de fraternidade, amor ao próximo e intolerância às diferenças, sentindo-se superiores às demais pessoas, resultando em disputa de poder entre os indivíduos, refletindo na família, no trabalho e na escola.
Por fim, espera-se que este estudo contribua como ferramenta para a diminuição das práticas de bullying dentro e fora do ambiente escolar, e que as ações preventivas de resgate e socialização dos envolvidos configurem-se em parte da agenda do Estado e das instituições de ensino.


7 REFERÊNCIAS

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BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 06 set. 2012.

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GUARESCHI, Pedrinho A. e SILVA, Michele R. (Coord.). Bullying: mais sério do que se imagina. Porto Alegre: Edipucrs, 2008.

LEITE, Ivana. Responsabilidade pela violência infantojuvenil. In: Visão Jurídica. Escala, n. 56, p. 68-75, 1 sem. 2011.

NETO, Aramis A. L. FILHO, Lauro M. SAAVEDRA, Lucia H. (org.). Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Disponível em: . Acesso em: 24 de julho de 2012.

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SILVA, Ana B. B. Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas. 1. ed. Rio de Janeiro: Fontanar, 2010.




[1] Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, defendido em novembro de 2012 perante a banca examinadora constituída pelos professores Dr. Elias Canuto Brandão (orientador), mestre Maria Simone Jacomini Novak e mestre Edinéia Fátima Navarro Chilante. Está em revisão para publicação em Revista Científica.

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