O
BULLYING NO ÂMBITO ESCOLAR: SUAS CONSEQUÊNCIAS E MEDIDAS PREVENTIVAS[1]
Andressa Carla de Oliveira
Pedagoga pela
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR-Campus Paranavaí)
E-mail: andressa_c_o@hotmail.com
Elias Canuto Brandão
Doutor
RESUMO
O presente artigo estuda o bullying no contexto escolar, compreendendo suas consequências,
analisando o que o mesmo pode trazer de negativo na vida social, nos
relacionamentos e na aprendizagem dos alunos que sofrem esta forma de
violência. O estudo foi sustentado em pesquisa bibliográfica, buscando
apontar caminhos para a construção da chamada cultura antibullying, a fim de contribuir com a formação docente para que
se tornem mais atentos no diagnóstico e prevenção de possíveis agressões em
sala de aula e fora dela. O tema é de preocupação no contexto escolar
brasileiro e de outros países o que justifica conhecê-lo e se aprofundar
sobre a questão ser
uma forma de contribuir para sua prevenção.
Palavras-chave: Violência escolar. Bullying. Formação docente.
1
INTRODUÇÃO
Por
séculos o bullying ocorreu no
cenário escolar sendo considerado algo natural e, portanto, ignorado pelas
instituições de ensino. Atualmente, em parte como resultado gerado pela
repercussão na mídia, os atos agressivos entre estudantes ficaram conhecidos
e tornaram-se tema de estudos entre educadores, psicólogos e psiquiatras como
diferentes formas de violência velada, intencional e repetitiva praticada por
crianças e adolescentes no espaço escolar. Enquanto violência, o bullying tem causado sérios danos à
vida dos envolvidos, atingindo dimensões cada vez maiores e complexas, tendo
visto que o praticante direciona seu ataque a uma pessoa determinada e de
forma constante, levando-o a se autoexcluir do meio social onde está
inserido, gerando traumas irreparáveis na vida do indivíduo.
Por
se tratar de um assunto complexo, nossa preocupação é contribuir com esclarecimentos
que possibilitem ações conjuntas diante do enfrentamento desta problemática.
Como o bullying acaba se
evidenciando geralmente dentro da escola, ela necessita do apoio de todos
para solucioná-lo, envolvendo as famílias, os alunos e toda a comunidade em
geral.
Para
tanto, o presente artigo analisa o bullying
no contexto escolar, visando contribuir na formação docente para orientação
dos educandos no que tange aos prejuízos sociais e educacionais com a prática
desta violência.
Estudos
indicaram que a prática do bullying
entre os estudantes, quando praticado na escola e, sendo detectado pelos
educadores, pode ser trabalhado pedagogicamente em tempo hábil, resultando em
possíveis soluções pela equipe escolar. O problema é que várias situações
acabam escapando do controle das escolas, necessitando do apoio da família e
de especialistas, como psicólogos.
A
prática do bullying, apesar de
histórica, expandiu-se com a organização da sociedade capitalista, alterando
as relações afetivas, expondo os indivíduos a uma relação de competição no
nível social, no trabalho e escola, afetando diretamente dois núcleos:
familiar e escolar. O fato de os pais passarem boa parte do seu tempo
trabalhando, ausentando-se do desenvolvimento de seus filhos, gera reflexo no
comportamento das crianças e adolescentes na família e na escola, alcançando
a carência de limites, tornando-as agressivas e violentas. Trata-se da
necessidade que o indivíduo tem de se impor sobre o outro, tanto para
demonstração de poder quanto para satisfação pessoal. Sobre esta questão,
elencamos no final deste estudo, possíveis contribuições que visam a
prevenção por meio de alternativas que escola e família possam colocar em
prática, possibilitando o enfrentamento do problema.
Para facilitar a compreensão do
estudo, utilizamos a metodologia dialética para compreender a realidade
histórica e cultural dos indivíduos quando envolvidos em atos violentos,
pois, segundo Guareschi e Silva,
Ao tratar
de bullying, é importante considerar ainda uma questão fundamental: o
contexto, isto é, o quanto a cultura em que os jovens estão imersos pode
influenciar no modo com que lidam com problemas e pessoas [...]. Muitos
alunos envolvidos no bullying receberam influência cultural que eliminava
opções que não envolvessem violência na resolução de problemas do dia-a-dia.
(2008, p. 55).
Um olhar atento sobre o bullying leva-nos a perceber que as
experiências vivenciadas pelo aluno em seu meio e na sua comunidade podem
repercutir por meio de seus atos na escola, visto ser esta o espaço de maior
concentração de pessoas em idade semelhante e de procedências culturais e
ideológicas diferentes. Diante disto,
faz-se necessário promover o diálogo, a solidariedade e a tolerância frente
às diferenças, incentivando a paz não apenas na escola, mas principalmente no
ambiente familiar, uma vez que aí estão os pilares que moldam e consolidam os
primeiros conceitos de respeito, moralidade e ética no indivíduo.
Várias
teorias como de Cléo Fante, Éric Debarbieux entre outros citados neste trabalho,
nos dão suporte para conhecermos o fenômeno bullying, apesar de não existir grandes obras que tratem da
questão nas escolas e sociedade. Daí a importância de discutir a temática
para contribuir com a preparação dos educadores no seu enfrentamento, possibilitando-os
ir além da violência em si, tendo visto que a prática do bullying pode envolver questões culturais, econômicas e
políticas, refletindo efetivamente na educação.
2 O
BULLYING NA ESCOLA E SUA DEFINIÇÃO
Pessoas
que convivem ou que trabalham com crianças e adolescentes diariamente
Aos
olhos dos adultos, as crianças não têm limites. Mas num olhar atento, de
educador, constata-se ter. Falta preparo dos educadores para lidar com a
situação. E o preparo deve começar na Universidade que, nesta matéria, também
está despreparada para a formação dos educadores. Neste complexo,
presencia-se a postagem de apelidos e “sarros” das imperfeições físicas ou da
situação econômica que o outro possui, dentre outras formas de ataques
pejorativos. O problema e preocupação dos educadores é que as “brincadeiras”
estão sendo praticadas de maneiras graves e frequentes, por meio de agressões
verbais, físicas e psicológicas discriminatórias.
Dessa
forma é importante compreender a violência social nas escolas historicamente,
analisando a partir do crescente número de comportamentos agressivos entre os
estudantes, sobretudo com a expansão da revolução industrial e comercial, da
tecnologia e da mídia.
No
bojo da violência social, o certo é que o bullying
causa prejuízos a quem o sofre. Segundo Michaelis apud Camargo e Costa (2010), a palavra bully de origem inglesa, significa indivíduo “brigão”,
“fanfarrão”, “tirano”. Utilizada do verbo bullying,
possui o significado de ameaçar, amedrontar ou maltratar, onde o
indivíduo protagonista submete o outro a situações de humilhação por meio de
ameaças físicas, emocionais, cognitivas ou sociais, de forma repetitiva sobre
um mesmo indivíduo.
Como
ferramenta protetora de quem sofre vexames como o bullying, existe no Brasil, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), documento que estabelece direitos e deveres às crianças e
adolescentes. O artigo 17 prescreve que
O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integração física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação de imagem, da identidade, da autonomia,
dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. (BRASIL, 1990,
s/p)
Na
continuidade do resguardo do direito, o artigo 18 preceitua ser “dever de
todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor” (Ibidem).
O
bullying confronta-se com o ECA,
pois se manifesta através de agressões verbais, físicas, morais, materiais e
psicológicas de maneira intencional e repetida, sem uma motivação específica.
A
Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à
Adolescência (ABRAPIA), citado por Neto (2012), realizou uma pesquisa em 2002
com patrocínio da PETROBRAS em onze escolas do município do Rio de Janeiro,
envolvendo 5.875 estudantes de 5º e 8º séries, para verificar o índice de
estudantes envolvidos com o bullying.
Os dados indicaram que 40,5% desses alunos estiveram diretamente envolvidos
em atos de bullying na escola
naquele ano, sendo que do total, 16,9% eram naquele momento alvos da
violência, 10,9% foram alvos/autores e 12,7% foram autores direto de bullying. Na prática, o estudo adverte
que enquanto a sociedade se organiza para lutar pela proteção legal das
crianças e adolescentes, o que é um direito intransferível, o interior da
escola tem sido palco de violência de todas as formas contra os mesmos e que
o Estado, enquanto protetor dos direitos sociais, políticos, econômicos,
culturais e civis, não dá a devida atenção e amparo, sendo conivente com as
diferentes formas de violência, podendo ser penalizado.
3 OS
PERSONAGENS DO BULLYING E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Existem
três personagens nesse tipo de violência: o agressor, a vítima e o
expectador. De acordo com Silva (2010), as vítimas do bullying, em geral, fogem do padrão imposto por um determinado
grupo de alunos, sendo pelo seu caráter físico, (altura, peso, imperfeições
físicas), raciais, culturais, regionais, geralmente são inseguras, e possuem
dificuldades de se expressar em grupo e na coletividade. A ausência dos
atributos trabalhados por Silva pode ser fundamentado na agressividade e na
falta de limites.
Os
atingidos não conseguem reagir aos ataques e as agressões, tornando-se alvos
mais fáceis de coagir. Como consequência,
ficam vulneráveis a doenças decorrentes das provocações, ameaças e
perseguições, podendo desenvolver transtornos do pânico, ataques de
ansiedade, angústia, depressão, anorexia, bulimia, fobia escolar e outros
problemas de socialização, podendo levar o indivíduo ao suicídio, homicídio
ou, como forma de compensação dos maus tratos sofridos, reproduzirem a
violência contra outras crianças ou adolescentes quando não tratados em tempo
hábil.
O
provocado ainda corre risco de, caso as perseguições não sejam identificadas
e tratadas a tempo, tornar-se um adulto reprodutor dos atos de bullying em seus relacionamentos
pessoais na sociedade ou escola, no mercado de trabalho ou ambiente familiar.
Silva
(2010) aponta que os praticantes podem agir só ou em grupo, provocando a
violência com o intuito de obter imagem pessoal única, passando-se por
“fortão” ou “valentão”, tendo a sensação de estar popular, demonstrando em
sua personalidade traços de desrespeito e maldade. Para a autora, o agressor
pode ter origem social em lares desestruturados e pode ser uma pessoa que não
recebeu a atenção devida quando necessitava, não conseguindo transformar sua
raiva em diálogo.
Destaca
a autora que nestes acontecimentos os personagens expectadores são partícipes
da situação ao não intervir para evitar as agressões. Podem não participar
diretamente do conflito, mas são fundamentais para a continuidade do ato,
pois testemunham as agressões e não defendem o agredido, nem se juntam aos
agressores.
A
autora coloca ainda que nestes acontecimentos os personagens expectadores são
partícipes da situação ao não intervir para evitar as agressões. Podem não
participar diretamente do conflito, mas são fundamentais para a continuidade
do ato, pois testemunham as agressões e não defendem o agredido, nem se
juntam aos agressores.
A
conivência dos expectadores tem duas possibilidades. Uma é medo de se
tornarem a próxima vítima do agressor, omitindo-se diante das agressões. A
outra é de atuarem como platéia, reforçando a agressão, rindo ou usando
palavras de incentivo ao agressor, prejudicando
psicologicamente o agressor e o agredido.
Destaca
Silva (2010) que com a ocorrência desse tipo de violência na escola, o
desenvolvimento sócio-educacional é prejudicado e as crianças podem se tornar
inseguras e tendo medo de serem as próximas vítimas, podendo influenciar nas
suas relações futuras, tornando-se adultos inseguros, visto que nem a escola
tem sido local seguro, saudável e solidário devido às diferentes formas de
violência.
Vale
lembrar que qualquer tipo de violência e, sobretudo o bullying mediante suas características e peculiaridades, resultam
em consequências e danos gravíssimos para a vida social, emocional, afetiva e
profissional de quem pratica ou sofre e, tanto
para a vítima, agressor e expectadores, as consequências são graves e negativas,
podendo ser trágica. Um texto produzido por Sidneya (2009), do Colégio
Impacto, demonstra o que estamos pontuando. Diz a missiva.
As
conseqüências afetam a todos, mas a vítima, [...] é a mais prejudicada, pois
poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua
vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional,
tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos.
Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um autoconceito de menos-valia e considera-se inútil, descartável. Pode desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio. Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações, o modelo que sempre lhe trouxe “resultados”: o do mando-obediência pela força e agressão. É fechado à afetividade e tende à delinqüência e à criminalidade. Isso, de certa maneira, afeta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até espectador, tais ações marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados gerando, até mesmo, atitudes sociopatas. (SIDNEYA, 2009, s/p).
O
bullying é sério, porém não é e nem
pode ser considerado um fenômeno fora das possibilidades e controle. Na
maioria das vezes falta vontade política e disposição por parte dos gestores
educacionais em encarar a problemática. Encarando, há possibilidade para
reversão.
Enfim,
é necessário conscientizar o agressor sobre as consequências do que faz,
fazendo com que se coloque no lugar do agredido, mostrando a ele e à vítima
que não estão sozinhos e que com ajuda dos educadores, pais, psicólogos e
outros especialistas é possível alterar o comportamento agressivo.
4 O
PAPEL DA ESCOLA E DA FAMÍLIA
O
bullying na contemporaneidade
expande-se velozmente, tornando-se mais conhecido pelos debates e reportagens
realizados pela mídia, como a divulgação do massacre de Realengo no ano de
2011, no Rio de Janeiro, quando o jovem Wellington Menezes de Oliveira,
entrou armado na escola onde estudou por anos, atirando contra todos,
resultando na morte de 12 estudantes. O bullying,
naquela situação em específico pode ter motivado o atirador.
Casos
como este, são divulgados pela mídia, devendo assim receber uma atenção
especial por toda a sociedade, para que situações semelhantes não ocorram
noutras partes do país, ganhando espaço e notoriedade negativa na mídia,
muito mais que ações de conscientização.
As
informações, mesmo que distorcidas ou carregadas de sensacionalismo, ganham
força com o contributo da mídia, sobretudo televisiva. Por outro lado,
desenhos, reportagens, filmes, jogos de vídeo-games e seriados induzem, mesmo
que indiretamente, crianças e adolescentes a reproduzirem na escola
determinados conteúdos televisivos, resultando em agressões físicas, psicológicas
e verbais. Intencional ou não, a mídia induz as crianças a imaginar que tudo
pode ser resolvido através da violência e, direta ou indiretamente, colabora
com a agravação do bullying nas
escolas. Cabe ao Estado, por meio da instituição escola – apesar de não ser
sua função e responsabilidade principal, mas infelizmente ela não pode ficar
alheia a esta situação – e aos pais conscientizarem as crianças e
adolescentes que os conflitos não devem ser reproduzidos e resolvidos através
de atitudes violentas, do tipo “te pego
na saída” ou do “me aguarde na
saída”, mas sim por meio do diálogo e da convivência salutar.
Um
possível caminho para solucionar e/ou prevenção do bullying, é reunir a equipe pedagógica, funcionários, pais e
alunos das instituições de ensino no levantamento de situações e meios para
combatê-lo com leituras, palestras, teatros ou reportagens, pois a
instituição não pode se esquivar diante dos conflitos, ainda mais quando o bullying ocorre nos espaços internos
da instituição educativa.
A responsabilidade da instituição se
justifica, pela falha na vigilância dos menores, enquanto que a dos
responsáveis se dá em razão de sua inoperância e mesmo omissão quanto à
importante parcela de responsabilidade que lhes cabe na educação dos seus
filhos. (LEITE, 2011, p. 71).
Assim,
as instituições devem ficar atentas a tudo que ocorre em seu interior, a
exemplo de relacionamento entre os estudantes: brigas, drogas, olhar
diferenciado, silêncio exagerado, entre outros. Já os pais devem ficar
atentos quanto à mudança de comportamento de seus filhos.
Segundo
Almeida (2012), os pais só percebem que a criança está sofrendo algum tipo de
agressão, quando aparecem com marcas pelo corpo. Somente a partir da agressão
os pais procuram a escola para saber o que está acontecendo – talvez tarde demais. Descreve que as
crianças quando agredidas aparecem com vários sintomas diferentes de seu
normal, chorando excessivamente, recusando-se a ir à escola, queda no
rendimento escolar, isolamento, entre outros.
As
queixas e alterações de comportamentos podem indicar anormalidades que não
devem passar despercebidas, pois podem estar passando por situações
conturbadoras, não conseguindo falar sobre o que está acontecendo devido às
ameaças realizadas pelos agressores.
Observações
semelhantes devem ser acompanhadas junto ao agressor, seja no convívio do
agressor com sua família e sociedade, seja na escola, pois a relação convívio
e comportamentos podem influenciar nas suas atitudes. As observações podem
evitar que os agressores se revoltem e reproduza os atos contra outros.
[...] as famílias podem ajudar a
manter seus filhos afastados da violência, podem, também, socializá-los para
ela. Pais violentos podem estar contribuindo para tornar violentos os seus
filhos. Se a violência familiar pode, de alguma forma, agravar os efeitos da
violência urbana sobre as crianças e jovens, é possível que ele produz
consequências muito significativas e imediatas sobre a vida escolar [...].
(CANDAU; LUCINDA; NASCIMENTO, 1999, p. 62).
A
ausência de limites ou a falta de diálogo com os filhos, os pais acabam
deixando de lado a educação dos mesmos, contribuindo para o distúrbio
comportamental e os pais, em situações como estas, podem ser
responsabilizados pelos atos dos filhos na escola e na sociedade.
Neste
sentido, o acompanhamento permanente da família sobre seus filhos na rua, na
escola e em ambientes coletivos contribuirá para comportamentos saudáveis e
formação da personalidade. E, neste viés, tratando-se da família, o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 4°, prescreve:
É dever da família, da comunidade,
da sociedade em geral e do poder público essegurar, com absoluta prioridade,
a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
O
Estatuto deixa claro caber primeiramente à família o dever de zelar pela
formação biopsicológica dos filhos, assim como é dever possibilitar o melhor
na sua educação, acompanhando seu desenvolvimento.
5
ESTRATÉGIAS E MECANISMOS DE PREVENÇÃO
De
acordo com Santomauro (2010), algumas ações contra o bullying e outras formas de violência nos espaços educacionais
podem ser realizadas pela direção das escolas, a exemplo de medidas de
prevenção, visando solucionar esta problemática. Dentre as medidas podemos
citar:
·
A promoção de
atividades que garanta o bom relacionamento entre os estudantes, como ensinar
a olhar para o outro, visando tolerar as diferenças individuais de cada um;
·
Reunir os alunos
para falarem e desabafarem sobre seus descontentamentos, visando à formação
de um ambiente equilibrado;
·
A equipe pedagógica
e diretores devem dar o exemplo e não agirem com agressividade e
autoritarismo nas salas ou contra os colegas de trabalho, pois os alunos os
vêem como modelo;
·
Realizar discussões
e levantamento de normas sociais e educacionais entre alunos e educadores;
·
Pensar o
envolvimento do conjunto da escola: agentes, direção, professores, funcionários,
alunos e familiares e, juntos encontrarem formas de identificação do bullying e possibilidades de sua
exclusão;
·
Realizar sondagem
do bullying por questionários
anônimos, verificando o relacionamento dos alunos na escola, identificando
possíveis agressões e buscando contribuições de pistas para possíveis
soluções.
Debarbieux
(2011, p. 26), analisa que “a violência nas escolas só pode ser enfrentada se
tratada com profundidade, com formação docente específica, incentivo à
solidariedade e aumento da proximidade entre professores e alunos”.
A
ABRAPIA, citada ainda por Neto (2012), coloca algumas outras orientações para
os diretores, coordenadores e professores visando reduzir o índice de bullying nas escolas. Para a
Associação, é importante desde o primeiro dia de aula falar com os alunos que
não será tolerado práticas de bullying
na instituição, fazendo com que todos se comprometam em evitá-lo, não
praticando violência e avisando a direção caso percebam indícios de
ocorrência.
Defende-se
ainda a promoção de debates e projetos que tratem sobre o tema bullying nas salas de aula, divulgando
e fazendo que seja assimilado por todos. Aconselha-se a entidade, quando
ocorrer alguma situação de bullying,
a procurar lidar com o mesmo de forma direta, investigando e analisando os
fatos, conversando com os envolvidos, chamando sempre os pais ou responsáveis
pela criança ou adolescente para que tomem ciência e consciência do ocorrido,
levando-os a participar junto com a escola na busca de soluções. Para
Nogueira (2005),
Quando identificados um autor e uma
vítima, ambos devem ser orientados. Seus pais devem ser alertados e estar
cientes que seus filhos, agressor ou agredido, precisam de ajuda
especializada. O comportamento dos pais diante deste comunicado é muito
importante: não se deve cobrar o revide, nem intimidar ou agredir. Este é um
momento de aprendizado para todos, e mostrar como se controlar, manter a
calma e evitar comportamentos de violência é imprescindível. (NOGUEIRA, 2005,
p. 9).
Um
erro constante dos pais que tomam conhecimento de filhos que sofrem violência
é instigá-los à réplica com frases como “você
não é homem não?” ou “seja homem,
pegue-o da próxima vez”, significando incentivo à violência e despreparo
enquanto pais ao provocar o contra-ataque, sendo importante a escola
identificar e entender quem são os pais dos educandos, desenvolvendo ações de
conscientização.
A
ABRAPIA defende como necessária a formação de professores preparados para
intervir em situações de bullying e
outros tipos de violência, possibilitando conhecerem os meios de apoio e
encaminhamentos para medidas legais e soluções às situações de agressões,
caso o diálogo com os envolvidos não tenha êxito. É preciso formar alunos
conhecedores do que é bullying e
dos prejuízos que o mesmo resulta, promovendo ações antibullying, conscientizando-os dos danos, exaltando o respeito
às diferenças, a solidariedade e proporcionando relações saudáveis entre
professor-aluno, aluno-aluno, aluno-comunidade.
Sobre
esta temática, Guareschi e Silva (2008) defendem que,
A escola deve priorizar a
conscientização geral de seus alunos e estimulá-los ao engajamento em
projetos antibullying. Deve-se
encorajar os alunos a participar de intervenções que promovam a supressão de
atos que caracterizam o bullying
para, desse modo, mostrar aos autores que eles não terão seu apoio, nem sua
omissão. (2008, p. 77).
Assim, combater
o bullying é uma tarefa permanente
de educadores, pais e sociedade em geral, conscientes de que não é de uma
hora para outra que este problema seja solucionado e que há dificuldades para
alcançar êxitos no seu combate, pois se trata de um fenômeno complexo, sendo
necessário o envolvimento de educadores e pais, mesmo quando estes alegam
falta de tempo no acompanhamento da formação sócio-biológica dos filhos.
É
necessário promover orientações, uma conscientização de forma geral e, sempre
estar discutindo a respeito do bullying
nas escolas, nos lares e ambientes de trabalho, para evitar que o fenômeno
seja reproduzido na vida adulta, gerando um círculo vicioso.
6
CONCLUSÃO
Até
a pouco o bullying se apresentou de
forma natural e camuflada em nossas escolas. Com o crescente número de ações
violentas no interior das mesmas, houve a necessidade de se investigar tal
prática, analisando como ela se manifesta na sociedade e na escola,
conhecendo suas características e seus personagens e ainda os fatores que
favorecem sua ocorrência no âmbito escolar.
O
bullying é um tipo de violência,
apresentando-se em forma de agressões físicas, verbais, psicológicas contra o
outro, geralmente sobre uma mesma pessoa, de maneira repetitiva, trazendo
consequências graves e negativas na vida dos envolvidos, a exemplo do
desenvolvimento de doenças decorrentes dessa prática, chegando a levar o
atingido a um estado crítico e trágico, como a opção pelo suicídio ou
assassinatos, bem como a reprodução dos atos sofridos na idade
infanto-juvenil, prejudicando as relações afetivas e sociais.
O
bullying não pode ser visto como um
fenômeno natural. É uma questão social e, portanto de gestão e
responsabilidade do Estado.
Assim,
faz-se necessário uma conscientização sobre essa problemática, envolvendo a
família, a escola e o Estado, para que juntos promovam ações para seu
enfrentamento, obtendo soluções de curto, médio e longo prazo, pois suas
causas estão no modelo de sociedade que vivemos, provocando círculos viciosos
entre as crianças, adolescentes e jovens.
É
na escola que os sinais de bullying
mais se manifestam e podem ser trabalhados, uma vez que é o espaço de
aglomeração e diversidade. Destacamos que esta forma de violência é
decorrente da maneira com que nossa sociedade está organizada, de suas
relações individualistas, excludentes e competitivas, onde as pessoas na
maioria das vezes só pensam em si e na satisfação de suas próprias necessidades,
deixando de lado todo o vínculo afetivo, de fraternidade, amor ao próximo e
intolerância às diferenças, sentindo-se superiores às demais pessoas,
resultando em disputa de poder entre os indivíduos, refletindo na família, no
trabalho e na escola.
Por
fim, espera-se que este estudo contribua como ferramenta para a diminuição
das práticas de bullying dentro e
fora do ambiente escolar, e que as ações preventivas de resgate e
socialização dos envolvidos configurem-se em parte da agenda do Estado e das
instituições de ensino.
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Acesso em: 07 out. 2012.
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[1] Trabalho de
Conclusão do Curso de Pedagogia, defendido em novembro de 2012 perante a banca
examinadora constituída pelos professores Dr. Elias Canuto Brandão
(orientador), mestre Maria Simone Jacomini Novak e mestre Edinéia Fátima
Navarro Chilante. Está em revisão para publicação em Revista Científica.
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